01 A ambiguidade gramatical e a estratégia tradutiva em Asclepius 12a

Autores

  • LIRA, David Pessoa de (UFPE)

Resumo

     O artigo examina a ambiguidade gramatical e interpretativa do Asclepius 12a, com foco nos adjetivos indigna e foeda. A incerteza reside na concordância desses termos, que podem qualificar tanto migratio (feminino singular) quanto corpora (neutro plural), resultando em leituras divergentes. O Asclepius, tradução latina do agora perdido Logos Teleios, caracteriza-se por uma abordagem tradutiva livre (sensus de sensu), em contraste com métodos literais (verbum e verbo). O estudo revisa como editores modernos, como Festugière e Scott, resolveram essa ambiguidade de maneiras opostas – associando os adjetivos ora a migratio, ora a corpora. A análise textual mostra que a duplicação (indigna et foeda) não resulta de erro de transmissão, mas de uma estratégia tradutiva deliberada. O artigo argumenta que essa duplicação reflete uma prática comum em traduções da Antiguidade e do Renascimento, especialmente na obra de Marsilio Ficino, que emulava o estilo do Asclepius. Nesse contexto, indigna e foeda são compreendidos como uma intensificação latina do grego μοχϑηρά, que concorda com σώματα em Corpus Hermeticum 10.8 – dois adjetivos latinos de sentido semelhante reforçando a nuance pejorativa do termo original. Embora os manuscritos apresentem variantes menores – como commigratio no lugar de migratio, ou alterações na ordem de sancto animo –, nenhuma altera decisivamente o sentido do trecho nem resolve a ambiguidade. O artigo conclui que a duplicação adjetival deve ser entendida como uma glosa tradutiva incorporada ao texto, representando uma escolha interpretativa consciente, e não como uma corrupção paleográfica. A ambiguidade, portanto, é fruto da tradução, não da transmissão manuscrita.

Palavras-chave:

Asclepius. Paleografia. Tradução.

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Publicado

14-05-2025

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Seção

Artigos