30. As máscaras do Harém. As cartas persas, de montesquieu, e a metáfora do estado despótico

Resumo

     As “Cartas Persas”, de Montesquieu (1689–1755), foram um dos grandes sucessos editoriais do século XVIII. Desde a sua primeira versão, datada de 1721, até a última edição – a de 1755, com aditamentos e correções realizadas pelo próprio autor –, foram impressionantes trinta edições consecutivas. E é justamente, nesta edição definitiva, que podemos encontrar alguns apontamentos esclarecedores, em forma de diatribe, contra aquelas vozes críticas que remetiam a sua obra ao âmbito dos discursos motivados pela impiedade e pelos crimes contra a ortodoxia católica. De fato, a mais famosa obra de Montesquieu desenha um panorama, tão terrível quanto cômico, do Reino e da corte franceses do século XVIII – e por consequência, de toda a civilização ocidental – a partir de um ponto-de-vista satírico, o que lhe conferiu um caráter estrategicamente ambíguo e polissêmico.