134. Memória e atualidade no cruzamento dos gêneros fábula e meme: espaço para a crítica na esfera da política
Resumo
No contexto das eleições presidenciais de 2018 no Brasil, as redes sociais ganharam destaque pela ampla repercussão e compartilhamento de textos relacionados ao discurso ordinário, a exemplo dos memes, textos virais que têm entre suas estratégias e efeitos de sentido a paródia e o humor, como mecanismos de travestimento da crítica. Nesse sentido, propomos uma análise discursiva de um meme que circulou durante a campanha presidencial de 2018, na rede social Facebook, em que a fábula clássica de La Fontaine, “A cigarra e a formiga”, adquire outras significações, pela subversão de sua temática. Baseando este estudo na análise do discurso francesa e na perspectiva dialógica do Círculo de Bakhtin, trabalhamos com a hipótese de que o sentido dos textos só é possível quando relacionado a suas condições de produção, históricas e ideológicas, e aos outros discursos que os constituem e atravessam. Desse modo, a fábula clássica opera como uma cena já validada, cujos sentidos estão mais ou menos estabilizados, o que possibilita o retorno do já-dito, em um mecanismo parafrástico facilitado pela paródia. Mas, ao mesmo tempo em que o gênero fábula sustenta os sentidos do meme, trazendo à tona uma memória discursiva, ele também ocasiona os deslocamentos de sentido, necessários para compreender os discursos da atualidade.