16. Microtoponímia de Palmeira dos Índios registrada em Caetés, de Graciliano Ramos: motivação e mudanças

Resumo

     Em Caetés, Graciliano Ramos apresenta João Valério, narrador-protagonista caracterizado por timidez e recolhimento interior, que acaba por se envolver amorosamente com Luísa, esposa de seu patrão e protetor, Adrião, que se suicida após denúncia anônima da dupla traição. Embora se sinta culpado, o protagonista não resiste ao poder e, à custa do amigo morto, se torna sócio da empresa onde trabalhava, abandonando a amante, que tentou golpeá-lo para ficar com toda a fortuna do finado marido. A narrativa registra inúmeros traços da Palmeira dos Índios de então, entre eles, parcialmente, a toponímia. Analisado a partir de instrumental próprio da toponímia, o conjunto de 21 microtopônimos (nomes referentes a logradouros públicos, bairros, povoados e vilas) citado em Caetés revela sete formas ainda presentes na atual malha urbana, havendo um equilíbrio relativo entre as descritivas e as comemorativas; sob um prisma formal, predominam as compostas. Um segundo grupo de nomes inclui os passivos de mudança entre a década de 1930 – de predomínio da descrição sobre a comemoração– até hoje, quando a situação se inverte. No corpus analisado, é possível observar padrão representativo, mas não categórico, de mudança toponímica (sistemática, total, interna e por ampliação), padrão esse relacionado ao progressivo aumento da homenagem como recurso de nomeação ao longo do século XX, um reflexo da mudança de percepção do sujeito-nomeador sobre os elementos dignos de registro da vida da cidade, em sua malha urbana. Mesmo como forma de demarcação de espaço simbólico de poder, a nomeação comemorativa não deixa de representar a identidade e a memória da cidade e de antigos ocupantes de alguma forma poder. Identidade e memória também se circunscrevem na toponímia conservadora, inalterada.